sexta-feira, 4 de julho de 2008

Era uma casa muito engraçada...mas a senhora morava nela!


Oi mãe, como é que a senhora está? Queria muito te contar uma coisa: nossa casinha já era!

Ontem quando eu cheguei da prefeitura e olhei pro nada que ainda ocupava o lugar pensei: minha mãe se foi!

A nossa casa de madeira era você. Cada madeira tinha sua história gravada nela. Aquelas tábuas tinham sua marca e eu imaginei o quanto elas me protegeram por esses 30 anos de minha vida, e protegeram a senhora, meu pai e meus irmãos. Protegeram quem chegava aqui e dizia: vim ficar uns dias!

Cada tábua de madeira que saia, que era derrubada tinha nelas a sua coragem, a sua determinação, o seu amor, o seu poder, tinha a sua vida. Elas eram com a senhora: fortes!

Sobreviveriam por muitos anos se fossem pra sempre bem cuidadas. Como a senhora, sobreviveria pra me ver ter filhos, pra me ver brilhar muito na vida, pra te muito mais orgulho se a senhora tivesse sido bem cuidada dentro daquele hospital.

As madeiras se foram, estão empilhadas nos cantos, esperando o momento de serem, definitivamente, retiradas do chão que forma o terreno de nossa casa. No lugar delas surgirá tijolos, a madeira está sendo substituída. E pra um bom entendedor, um pingo é letra!

Em meus sonhos te vejo vendo tudo, olhando cada retirada de sua história, e fico pensando: a reforma era um sonho seu. Mas com ela veio também mais um pouco de sua falta, e essa falta torna-se uma saudade que parece não ter fim.

Tudo poder ficar diferente, muitas coisas poderão ser substituídas, mas meu amor pela senhora nunca mudará. Nem minha saudade, minhas lembranças e a minha vontade de dormir e acordar de seu lado.

Sabe mãe, eu nunca me cansarei de dizer que eu te amo muito mais hoje do que eu pude ou consegui te amar ontem.